Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (3) revela que a população do Rio de Janeiro apoia de forma expressiva medidas de endurecimento penal contra organizações criminosas. Os dados foram coletados logo após a megaoperação policial realizada em 28 de outubro nos Complexos da Penha e do Alemão, que resultou em 121 mortos e reacendeu o debate sobre segurança pública no estado.
O levantamento aponta que 85% dos moradores fluminenses são favoráveis ao aumento da pena de prisão para condenados por homicídio a mando de organizações criminosas. A medida tem amplo consenso entre os entrevistados, com apenas 10% de rejeição.
Outro dado que chama atenção é o apoio à proposta de enquadrar facções criminosas como organizações terroristas: 72% dos entrevistados se declararam favoráveis à medida, enquanto 23% são contrários e 5% não souberam ou não opinaram. A questão, que divide opiniões entre governo federal e oposição, encontra forte respaldo popular no estado mais afetado pela violência do crime organizado.
Contextualização da megaoperação
A pesquisa foi realizada entre os dias 30 e 31 de outubro, apenas dois dias após a megaoperação contra o Comando Vermelho que se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro. A ação policial nos Complexos da Penha e do Alemão provocou intenso debate sobre os métodos de combate ao crime organizado e expôs a tensão entre diferentes visões sobre segurança pública no país.
Divisão política sobre o tema
O apoio ao enquadramento das facções como terroristas varia significativamente de acordo com a orientação política dos entrevistados. Entre os que se identificam como bolsonaristas, a aprovação chega a 91%, enquanto entre os lulistas o índice cai para 49%. Já entre os eleitores de esquerda não lulistas, apenas 36% apoiam a medida. Entre os independentes, o apoio fica em 74%.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou publicamente a proposta de equiparar facções a grupos terroristas. Em resposta, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apresentou ao Congresso um “pacote anti-facção” que cria o tipo penal de “organização criminosa qualificada” e pode elevar a pena de homicídio a mando de facção para até 30 anos de prisão.
Outras medidas avaliadas
A pesquisa também testou a opinião dos entrevistados sobre diversas propostas relacionadas à segurança pública:
Medidas com forte apoio popular:
- Criação de um escritório de emergência para combate ao crime organizado: 94% de aprovação
- Uso obrigatório de câmeras nos uniformes de policiais: 81% de apoio
- Fim das visitas íntimas a detentos ligados a facções: 62% de aprovação
- Implementação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo governo federal: 59% de apoio
- Pena de morte para acusados de crimes graves: 58% de aprovação
- Fim das saídas temporárias de presos em datas comemorativas: 53% de apoio
- PEC da Segurança Pública, proposta pelo governo federal: 52% de aprovação
Medidas rejeitadas:
- Facilitar a compra e o acesso a armas de fogo: 72% são contrários, apenas 24% apoiam
A rejeição ao armamento da população civil é especialmente forte entre eleitores de esquerda (98% contrários) e lulistas (95% contrários). Entre bolsonaristas, o cenário se inverte: 55% são favoráveis à facilitação do acesso às armas.
Percepções sobre crime organizado e instituições
O levantamento também capturou percepções importantes sobre a relação entre crime organizado e política: 82% dos entrevistados acreditam que líderes de facções ajudam a eleger deputados e, por isso, “dificilmente são presos”. Outros 80% afirmam que os responsáveis pelo comando do crime não estão nas favelas, mas escondidos em bairros nobres.
Em relação às instituições, a pesquisa mostra aumento da confiança nas forças de segurança. A Polícia Militar registrou crescimento de 65% para 72% de aprovação em dois anos. As Forças Armadas seguem como a instituição mais confiável, com 83% de aprovação. Já o Poder Judiciário perdeu credibilidade, caindo de 67% para 61%.
Sobre a megaoperação que deixou 121 mortos, 58% dos entrevistados a consideram um sucesso, enquanto 32% a classificam como fracasso, 6% afirmaram que “depende” e 4% não souberam responder.
Metodologia
O levantamento da Genial/Quaest entrevistou 1.500 moradores do estado do Rio de Janeiro com 16 anos ou mais, em 40 municípios fluminenses. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
Impacto político
Para o diretor da Quaest, o cientista político Felipe Nunes, a segurança pública pode se tornar um divisor político nas próximas eleições. Os dados mostram que o tema mobiliza fortemente a população fluminense e evidencia diferenças substanciais entre as visões de esquerda e direita sobre como enfrentar o problema.
A pesquisa também indica que 53% dos entrevistados consideram que o governo federal não tem auxiliado adequadamente os estados no combate ao crime organizado, sinalizando insatisfação com a coordenação entre diferentes esferas de poder no enfrentamento das facções criminosas.



