A ideia de uma escola de grande porte para Afogados da Ingazeira já circulava ao final dos anos vinte do século passado quando o padre Marinho César, vigário da cidade, faz uma a petição junto ao Congresso Estadual para a construção de um prédio destinado a Escola Paroquial. A escola já existia, porém as instalações não eram condizentes com a visão do Pe. Mário.
A construção da imponente escola não vingou, mas ficou a certeza de que em um futuro próximo a cidade contaria com um ambiente escolar a altura do lugar e, anos depois, em Julho de 1948 visando a difusão do ensino em Pernambuco foram apresentados na Assembleia projetos criando Escolas Normais Rurais em algumas cidades do interior e dentre elas estava, Afogados da Ingazeira.

O terreno onde hoje se encontra o Colégio Normal pertenceu ao casal Henrique da Costa Brasil e Ana Maria das Dores Brasil que venderam ao casal José Pereira de Souza (Zeca Pereira) e Manoela Valadares de Souza que, posteriormente, venderiam ao estado para a construção da Escola Normal Rural. Os 25 hectares de terras ficava situado no lugar, Sítio Henrique Brasil, que na época ainda era zona rural. O valor do terreno foi de Cz$ 75.000,00 (setenta e cinco mil cruzeiros) e o representante legal do estado foi o Promotor Público do Município, Bel. Clemenceau Dutra de Almeida Lyra, compra efetuada aos 03 de junho de 1950.
A Escola Normal chega a Afogados da Ingazeira através de articulações do Monsenhor Alfredo de Arruda Câmara por meio de emendas federais e em 25 de novembro de 1954 através do decreto de nº 253 o Presidente da Assembleia legislativa decreta:
ART. 1º – é CRIADA A ESCOLA Normal Rural Regional do município dos Afogados da Ingazeira, tendo por finalidade preparar regentes de Ensino Primário, nos termos do Decreto nº 172, de 9 de janeiro de 1952.
PARÁGRAFO ÚNICO – oportunamente será elaborado, nos moldes da lei Orgânica do Ensino Normal, o Regimento Interno e as instruções necessárias à instalações e funcionamento da referida Escola.
ART. 2º – O presente Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogada as disposições em contrário.
Um breve histórico da Escola Normal:
O prédio foi construído no governo do General Osvaldo Cordeiro de Farias. Entre um convênio assinado entre o Secretário de educação e Cultura, naquela época, o Dr., Aderbal Jurema e as Religiosas Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho, para a instalação e direção da Escola; foi esta inaugurada a 04 de fevereiro de 1956.
RELAÇÃO NOMINAL DOS PRIMEIROS DIRETORES:
– Madre Maria Olivete
– Madre maria da Sagrada Face
RELAÇÃO DO PRIMEIRO CORPO DOCENTE:
– Dr. Vicente Jesus Lima
– Dr. Aluisio Arruda
– Maria helena Benevides Morais
– Irmão Maria do salvador
O PROVÁVEL SEGUNDO CORPO DOCENTE FOI COMPOSTO POR:
Irmão Maria de Pompéia; Irmã Maria Verônica; Irmã Myriam de Jesus; Irmã; Maria das Neves; Pe. Antônio de Pádua Santos; Adalberto Veras; Aliete severo Siqueira; Letícia de Campos Góes; Ione de Góes Barros; Maria da Conceição Campos Sá; Madre Maria da Sagrada Face.
Ficaria assim formado os primeiros representantes da direção e do corpo docente da Escola Normal Rural de Afogados da Ingazeira.
Com a saída das freiras por término de contrato, pois o contrato das religiosas seria por 10 anos e a partir daí outro corpo docente teve que ser formado. Através da insistência de D. Francisco Austregésilo de Mesquita com o então Governador Paulo Guerra que em janeiro de 1967 se fazia presente na inauguração do DERE em Afogados da Ingazeira D. Francisco convida a então professora Ione de Góes Barros para que a mesma assumisse a direção da Escola, D. Ione pensando na população da cidade mesmo com um pouco de resistência ou até mesmo medo por nunca ter sido diretora aceita o convite e assume o cargo.
Diretoras a partir do ano de 1967 até 2023:
1967 à 1989 – Ione de Góes Barros
1990 à 1991 – Maria Giselda Morais Pessoa
1991 à 1992 – Maria das Neves S. Siqueira
1992 – Maria Jucineide Costa de Farias
1993 à 1994 – Maria Geneci de Almeida
1995 à 1998 – Maria Graciete Ramos Bezerra
1999 à 2011 – Maria do Socorro Araújo de Almeida
2012 – (até os dias atuais) – Edjane Gomes dos Santos Almeida
DECRETOS E LEIS IMPORTATES PARA A ESCOLA NORMAL:
DECRETO Nº 253 de 25 de novembro de 1954 – Criação da Escola Normal Regional de Afogados da Ingazeira.
DECRETO Nº 48.902 de 27 de agosto de 1960 – Criação da Campanha Nacional do Livro
DECRETO nº 1062 de 10 de março de 1965 – Autorizando o funcionamento do Curso de Formação de Professores Primários e criou o Colégio Normal Estadual de Afogados da Ingazeira.
DECRETO LEI Nº 5692/71 – A partir dessa lei e por força da Secretária de Educação o Colégio Normal que já pertencia ao estado, passa a matricular alunos do sexo masculino, pois antes só eram permitidas pessoas do sexo feminino.
LEI Nº 15.961 de 23 de Dezembro de 2016 – Mudança do nome Colégio Normal Estadual para Escola Normal Estadual Ione de Góes Barros.
DECRETO Nº 44.034 de 11 de janeiro de 2017 – ampliação da jornada escolar para 40h semanais.
DECRETO Nº 4.042 de 16 de janeiro de 2017 – Transforma em Escola de Referência em Ensino Médio Professora Ione de Góes Barros, a qual passa a oferecer o Ensino Integral com jornada ampliada para o Ensino Médio.
A primeira turma de alunas da Escola Normal teve início em 1956 e a segunda em 1957 onde em 1960 31 alunas concluíram a 1ª série e no ano seguinte, em 1961, 28 alunas também concluíram a 1ª série.


A professora Ione de Góes Barros foi a pessoa que mais tempo passou junto a direção da Escola Normal iniciando os seus anos como aluna e posteriormente como professora e por fim diretora. Não seria pura coincidência que anos mais tarde esta instituição escolar viria a receber o seu nome: “ESCOLA DE REFERÊNCIA EM ENSINO MÉDIO PROFESSORA IONE DE GÓES BARROS.
D. Ione, como sempre foi chamada, nasceu em Afogados da Ingazeira aos 03 de setembro de 1924 na casa dos seus avós maternos em um casarão que ficava na esquina da atual praça Arruda Câmara. Filha de João Cecílio de Barros e Julieta de Góes Barros, a sua infância foi dividida entre Afogados, a Fazenda Colônia e o Sítio Umburanas este pertencente aos seu avós paternos localizado no atual município de Tabira.
Ainda criança D. Ione segue com os pais para Garanhuns e em seguida para Delmiro Gouveia no vizinho estado de Alagoas onde inicia e termina o seu curso primário. Aos 10 anos de idade segue para o Recife onde segue os seus estudos no Colégio da Sagrada Família, após algum tempo sem estudar retorna novamente só que desta vez ao Colégio do sagrado coração na cidade de Caruaru onde faz o 1º, 2º e 3º anos Ginasial. Em 1943 termina o 2º ano no Colégio Nossa Senhora da Graça em Vitória de santo Antão que era dirigido pelas Irmãs das damas da Instrução Cristã do Recife, formando-se professora.
Em 1944 através de seleção promovida pelo Estado D. Ione é nomeada professora em “Boa Vista”, atual Ibitiranga, hoje pertencente ao município de Carnaíba. Um ano depois é transferida para afogados da Ingazeira como professora de escola isolada, a escola era em uma casa onde o próprio professor era quem alugava para ministrar as aulas. Com a inauguração do Grupo Escolar padre Carlos Cottart todas as professoras foram realocadas para o grupo. Anos depois com a inauguração da Escola Normal D. Ione foi transferida como professora primária e posteriormente professora de Geografia do curso ginasial.
Começou a surgir no interior os cursos pedagógicos e tanto ela quanto as outras professoras seguiram para a cidade de Sertânia na tentativa de fazer o curso pedagógico, mas por questões logísticas desistiram e se matricularam em São José do Egito onde terminaram o curso. Em Arcoverde fez o curso de Geografia (Licenciatura Curta) e licenciatura plena em pedagogia na cidade de Caruaru. D. Ione mesmo muito atarefada conseguiu terminar o Curso de Direito.
Não menos importantes que D. Ione, algumas figuras de outras áreas de atuação fizeram história no Colégio Normal, como por exemplo: D. Maria Gouveia, seu Sérgio, D. Jovelina e seu Jovelino, este, segundo D. Ione, em entrevista ao afogadense Fernando Pires, diz ser de uma inteligência incrível, além de ser da época das freiras. Talvez por isso seu Jovelino fosse um grande contador de histórias relacionadas ao Colégio Normal. Quem não se lembra da história do padre sem cabeça e da vassoura que voava correndo atrás dele; e do sino que havia no corredor principal que ele falava que o mesmo tocava sozinho durante a noite?
O Colégio Normal é um lugar recheado de histórias e seria impossível relatar todas as pessoas que passaram por ele e deixaram marcas, tanto na instituição quanto fora após terminarem os estudos e seguirem os seus destinos levando a outros lugares ensinamentos que só os ensinamentos obtidos em uma escola como o Normal pode nos dar graças ao corpo de gestores e professores que por ele passaram e aos que ainda exercem as sua funções com maestria e amor a ambiente acadêmico e histórico da nossa querida Afogados da Ingazeira.
Desde 2012 que a atual Diretora Edjane Gomes dos santos Almeida gere a instituição e entre altos e baixos segue os ensinamentos deixados pelos antigos diretores. Edjane, assim como os seus antecessores também é professora e conhece como ninguém os caminhos que precisam ser percorridos para uma boa gestão e talvez seja este o ingrediente para uma gestão que já dura 11 anos.
Edjane é também dessas pessoas que dentro do possível tenta resgatar e manter viva a história da Escola de Referência em Ensino Médio Professora Ione de Góes Barros, onde documentos e imagens são escassos, dificultando assim a recuperação de momentos históricos vividos por gestores, professores, alunos, enfim, todos os funcionários e, principalmente, pela própria instituição.
O Colégio Normal ainda conta com uma ampla biblioteca que leva o nome do santo italiano, São Domingos Sávio, canonizado pelo Papa Pio XII em 05de março de 1950. Apesar de levar o nome do santo talvez desde os anos iniciais do colégio, só em 10 de junho de 1987 através do decreto 48.902/60 é que a biblioteca consegue o seu registro junto ao Instituo Nacional Do Livro ficando assim registrada como: BIBLIOTECA SÃO DOMINGOS SÁVIO COLÉGIO NORMAL ESTADUDAL, registrada no instituto com o número 25.113 na categoria escolar.


A Escola Normal de Afogados da Ingazeira, assim como, todas as escolas normais instaladas no interior do estado tinham as suas capelas construídas em anexo a escola onde existiam dois acessos, sendo um frontal e o outro na lateral interna para acesso dos celebrantes e das freiras. Durante anos a capela serviu para realizações de missas e casamentos, mas de alguns anos para cá pelo fato de o Brasil ser considerado um País laico a capela foi aos poucos sendo desativada e por fim os eventos que outrora eram realizados ficaram apara trás.
As capelas tinham os seus padroeiros ou padroeiras. A de Afogados da Ingazeira por ter sido gerida por dez anos pelas Irmãs Franciscanas de Nossa senhora do Bom Conselho, provavelmente seria dedicada a uma santa e pelas imagens obtidas tenha sido Nossa Senhora de Fátima a padroeira da capela.
Hoje o espaço encontra-se vazio e o que no passado era um ambiente reservado a celebrações encontra-se vazio e apenas as memórias ficaram guardadas na mente de quem teve a oportunidade de frequentar as suas missas e casamentos.


Poucas instituições de ensino tem o seu hino, mas em se tratando do Colégio Normal de Afogados da Ingazeira a situação é totalmente diferente. O colégio tem sim o seu próprio hino e tem como autores o escritor Gonzaga Barbosa e o professor e musicista Fábio Luiz, sendo a letra de Gonzaga Barbosa e a música de Fábio Luiz.
A música sempre esteve presente na história do Colégio Normal. Buscando na minha memória lembro de quando pequena existir um senhor por nome de Sr. Osvaldo que era o maestro da banda do colégio, depois dele outros vieram e nos dias atuais a escola conta com uma banda musical e nas suas instalações existe uma sala dedicada a aulas de música.
HINO DA ESCOLA NORMAL ESTADUAL
ÉS GLORIOSA COMO A CRIANÇA
NASCIDA EM BERÇO TÃO GENTIL
TEU NOME SEMPRE SERÁ LEMBRADO
EM AFOGADOS, PERRAMBUCO E NO BRASIL
Nobre filha de Afogados da Ingazeira
Foste tu desta terra a primeira
A desfraldar do ensino a bandeira
Iniciando um período novo
Na terra de Arruda Câmara e Manoel
Moldando um novo painel
Para a alegria do seu povo.
ÉS GLORIOSA COMO A CRIANÇA…
Para a glória desta gente
Foste tu a primeira semente
Eu, como magma ardente
Alguém semeou neste chão
Com amor paternal
Crescestes como vegetal
Nas terras áridas do sertão.
ÉS GLORIOSA COMO A CRIANÇA…
Bela como o sol
Foste sempre o farol
Do alvorecer ao arrebol
Nem uma até hoje foi como tu
Filha nobre desta terra
Da planície até a serra
Orgulho do nosso Pajeú.
De ti brotaram rebentos
Crescente como os ventos
Que aqui passam mesmo lentos
Tingindo de roxo o ar
Mesmo sendo de uma terra pobre
Te tornaste a casa mais nobre
Na arte de educar.
ÉS GLORIOSA COMO A CRIANÇA…
Hoje e sempre serás a cidadã
Do ontem, do hoje e do amanhã
Como se fosses mãe, filha ou irmã
Do teu âmago brotará sabedoria
Num esplendor cultural
Com a brisa matinal
Que vem no raiar do dia.
Poucas serão como tu,
Oásis do nosso Pajeú
Eis para sempre o IPU
Para matar a sede do saber
Formadora de mestras
Que todos os anos fazem festa
Para te agradecer.
ÉS GLORIOSA COMO A CRIANÇA…(2x)
Ao transcrever este belíssimo hino tive a certeza da grandiosidade que foi e que ainda é o Colégio Normal Estadual de Afogados da Ingazeira, como sempre o chamamos carinhosamente. Fica aqui esperança que, assim como no passado, a ESCOLA DE REFERÊNCIA EM ENSINO MÉDIO PROFESSORA IONE DE GÓES BARROS através da atual e de futuras gestões possa desbastar e lapidar uma geração vultuosa para a nossa Afogados da Ingazeira, para o estado, para o Brasil e para o mundo.
Alexsandro Acioly Silva
(Ex-aluno do Colégio Normal , historiador, pesquisador e pós-graduado em Arte-Educação)
Fontes:
Arquivos e documentos do Colégio Normal estadual