UNESCO alerta para escassez de 44 milhões de educadores até 2030; país registra queda de 42% entre docentes jovens
O Brasil se encontra no epicentro de uma crise educacional que transcende suas fronteiras: a escassez mundial de professores. Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), lançado nesta terça-feira (22), revela que o mundo precisará de mais 44 milhões de docentes para atender adequadamente a educação primária e secundária até 2030.
O documento, produzido em parceria com a Fundação SM e apresentado com a participação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), expõe uma realidade preocupante: jornadas extenuantes, acúmulo de responsabilidades e carreiras pouco atrativas têm afastado profissionais da educação não apenas no Brasil, mas globalmente.
Cenário alarmante para a próxima década
As projeções são desanimadoras. Segundo a UNESCO, sem medidas urgentes, apenas quatro em cada dez países conseguirão formar professores suficientes para garantir educação primária universal até 2030. Para o ensino secundário, a situação é ainda mais crítica: menos de um em cada cinco países terá docentes em quantidade adequada.
Na América Latina, 29 dos 37 países podem enfrentar déficit de profissionais, evidenciando que a crise educacional é um fenômeno regional que demanda ação coordenada.
Os dados mais recentes do Brasil, referentes a 2022, mostram uma proporção de um professor para cada 20 a 29 alunos na educação primária – índice similar ao de países como Bolívia, Colômbia e México. Em comparação, Costa Rica, Cuba e República Dominicana apresentam situação mais favorável, com um docente para até 20 estudantes.
Contudo, os números brasileiros escondem uma tendência alarmante: o envelhecimento acelerado do corpo docente. Enquanto a porcentagem de professores com mais de 50 anos cresceu 109% entre 2009 e 2021, o número de educadores com menos de 24 anos despencou 42% no mesmo período.
A crise docente compromete diretamente o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS 4) da Agenda 2030, que visa “assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”.
O envelhecimento da categoria no Brasil sinaliza que, em poucos anos, uma parcela significativa de professores experientes se aposentará, sem que haja reposição adequada por profissionais mais jovens. Esta situação pode resultar em salas de aula superlotadas, qualidade de ensino comprometida e maior pressão sobre os docentes remanescentes.
O relatório da UNESCO identifica fatores sistêmicos que tornam a carreira docente pouco atrativa: salários insuficientes, condições de trabalho inadequadas, falta de reconhecimento social e desenvolvimento profissional limitado. Estes elementos criam um ciclo vicioso que afasta talentos da educação justamente quando mais se precisa deles.
A crise exige resposta imediata e articulada entre governos, sociedade civil e organizações internacionais. Sem investimento urgente na valorização do magistério, o direito fundamental à educação de qualidade ficará comprometido para milhões de estudantes ao redor do mundo.
O lançamento do relatório contou com a presença de representantes da UNESCO, Fundação SM e CAPES, reforçando a importância da cooperação institucional para enfrentar este desafio global.