Nos anos 90, Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, já despontava como um destino turístico reconhecido pela exuberância de suas flores e pelo clima ameno. Mas foi o olhar visionário de um professor universitário que transformou a cidade em palco de um dos festivais mais importantes do Nordeste brasileiro.
Marcílio Reinaux, natural de Garanhuns e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde lecionava História das Artes, encontrou a inspiração para criar o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) durante uma viagem acadêmica na década de 1980.
“Na época eu era professor da Universidade Federal de Pernambuco, lecionava a disciplina de história das artes e era convidado para fazer conferências em outras faculdades. Um dia, a Universidade Federal de Sergipe me convidou para participar do Festival de Inverno da Universidade. Eu fui, mas quando cheguei lá não tinha de inverno”, relembra o idealizador do evento em entrevista ao G1 Caruaru.

A experiência em Sergipe despertou em Reinaux a percepção de que Garanhuns reunia condições ideais para sediar um festival multicultural. A cidade já possuía o diferencial climático necessário – as famosas baixas temperaturas que marcam o inverno nordestino – e um potencial turístico ainda pouco explorado.
O projeto, que Reinaux define como “arriscado”, foi apresentado à prefeitura de Garanhuns no final dos anos 1980. A proposta encontrou receptividade junto ao poder público municipal, que vislumbrou na iniciativa uma oportunidade de diversificar o turismo local.
Em 1991, a parceria entre a prefeitura e o governo do estado de Pernambuco oficializou a criação do Festival de Inverno de Garanhuns. O primeiro material de divulgação já anunciava a amplitude do evento: um espaço dedicado às artes plásticas, teatro, dança e música, com shows de grandes nomes da música popular brasileira como Zé Ramalho, Alceu Valença e Dominguinhos.
O crescimento do festival ao longo dos anos pode ser medido não apenas pelo porte das atrações, mas também pela marca visual que deixou na cidade. Os cartazes anuais do FIG se tornaram verdadeiros documentos históricos, registrando a evolução do evento e criando uma identidade visual própria.
A empresária Tânia Bezerra, moradora de Garanhuns, desenvolveu uma coleção particular desses cartazes, transformando-os em memória afetiva da festa. “A paixão pelo festival é muito grande. Toda cidade tá sentindo falta do evento”, afirma Tânia, refletindo o sentimento coletivo dos garanhuenses.
A cada edição, o Festival de Inverno de Garanhuns expandiu seu alcance e prestígio, atraindo grandes nomes da música brasileira e consolidando-se como um dos principais eventos culturais do calendário pernambucano. O festival conseguiu aliar o aproveitamento das características naturais da cidade com uma programação cultural diversificada, criando uma identidade própria no cenário dos festivais brasileiros.
O legado do FIG transcende os números de público e a dimensão econômica, representando um marco na história cultural de Garanhuns e um exemplo de como a visão de um indivíduo pode transformar o perfil de uma cidade inteira.
