O cantor e compositor mineiro Lô Borges faleceu na noite de domingo, 2 de novembro de 2025, às 20h50, aos 73 anos, em decorrência de falência múltipla de órgãos, conforme informou o Hospital Unimed de Belo Horizonte. O músico estava internado desde 17 de outubro após sofrer intoxicação de medicamentos em casa, tendo passado por diversos procedimentos médicos, incluindo traqueostomia e hemodiálise, antes de seu falecimento.
Uma Trajetória que Revolucionou a MPB
Nascido em 1952 em Belo Horizonte, Salomão Borges Filho começou a tocar violão após conhecer os sucessos dos Beatles e deu início à carreira musical após incentivo do parceiro de composição, Milton Nascimento. Aos apenas 20 anos, em 1972, Lô viveu um ano prodigioso ao lançar simultaneamente dois álbuns fundamentais: o icônico “Clube da Esquina”, em parceria com Milton Nascimento, e seu primeiro trabalho solo, conhecido como “Disco do Tênis”.
Com mais de 20 álbuns lançados ao longo da carreira de mais de 50 anos, Lô Borges foi responsável por compor músicas como Trem Azul, Um Girassol da Cor do Seu Cabelo, Para Lennon e McCartney, Trem de Doido e muitos outros sucessos que marcaram o gênero. Suas composições transcenderam gerações e continuam sendo regravadas por artistas de diversas épocas.
O Clube da Esquina: Um Movimento Revolucionário
Ao lado de Milton Nascimento, Beto Guedes, do irmão, Márcio Borges, e outros artistas mineiros, Lô Borges fundou o movimento que revolucionou a MPB à época. O Clube da Esquina, nascido em uma esquina do bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, representou uma fusão inovadora de MPB, rock, jazz, folk e música clássica.
O álbum Clube da Esquina (1972) foi considerado em 2022 como o melhor álbum brasileiro da história, consolidando o legado do movimento. Lô também foi fundamental na criação do “Clube da Esquina 2” (1978), perpetuando a sonoridade única do grupo.
Prolífico até o Fim
Demonstrando vitalidade criativa até seus últimos anos, desde 2019 Lô lançava um disco de inéditas por ano, sempre com um letrista convidado. Entre os projetos recentes estão “Rio da Lua” (2019, com Nelson Ângelo), “Dínamo” (2020), “Muito Além do Fim” (2021), “Chama Viva” (2022), “Não Me Espere na Estação” (2023) e “Tobogã” (2024). Seu último trabalho, “Céu de Giz” (2025), foi lançado em parceria com Zeca Baleiro apenas meses antes de sua morte.
Homenagens Póstumas: “Brasil Perde um Artista Genial”
A morte de Lô Borges provocou uma onda de emoção e homenagens na comunidade musical brasileira. Milton Nascimento, através de seu perfil oficial, declarou: “Lô Borges foi – e sempre será – uma das pessoas mais importantes da vida e obra de Milton Nascimento. Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina”.
A mensagem de Milton ainda afirmou que “Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes” e que o “Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”.
Augusto Nascimento, filho de Milton, compartilhou: “Para além de ter sido um dos maiores gênios desse planeta, Lô Borges foi um dos amigos mais legais e fiéis ao meu pai durante toda a vida. Sempre presente, cuidadoso e amoroso”.
Flávio Venturini, integrante do Clube da Esquina, disse que Lô “sempre foi uma grande inspiração” e que “perder sua presença e a luz de suas canções será uma grande dor, mesmo com a certeza de que elas serão eternas”.
O músico Pablo Castro, que dirigiu a turnê nacional do “Disco do Tênis”, prestou um emocionado depoimento afirmando que Lô era “um dos maiores inovadores da MPB, com harmonias alquímicas que são profundamente originais”.
Rogério Flausino, do Jota Quest, e João Bosco também prestaram suas condolências, assim como dezenas de outros artistas que se manifestaram nas redes sociais.
Um Legado Eterno
Dedicado à música e às composições, Lô Borges nunca se casou e não teve filhos. O artista, no entanto, conquistou o carinho dos fãs e o respeito dos demais músicos do gênero ao longo dos anos.
Lô é o segundo integrante do Clube da Esquina a falecer. O primeiro foi Fernando Brant, que morreu aos 68 anos em junho de 2015 vítima de complicações de um transplante de fígado.
Suas canções permanecem vivas nas plataformas digitais e na memória coletiva brasileira, garantindo que o legado desse gênio musical continue inspirando novas gerações de compositores e amantes da música popular brasileira.



