Governadora usa evento público para rebater articulação da oposição que pode fragilizar ainda mais seu governo
A governadora Raquel Lyra (PSDB) mostrou nesta segunda-feira (18) que não pretende assistir passivamente ao xadrez político que vem sendo montado contra seu governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Durante o evento “Ouvir para Mudar”, realizado em Carpina, a tucana abandonou a diplomacia de praxe e partiu para um discurso que, embora revestido de retórica democrática, deixou claro seu desconforto com as movimentações da oposição.
O alvo indireto das críticas foi a articulação do presidente da Alepe, Álvaro Porto, que conseguiu atrair o deputado estadual Diogo Moraes para o PSDB – uma jogada que amplia significativamente o espaço da oposição e pode dar novo fôlego à CPI da Publicidade, pedra no sapato do governo estadual.
O Recado Cifrado
Sem citar nomes – estratégia típica de quem quer atacar sem assumir diretamente o confronto -, Raquel tentou desqualificar as articulações políticas adversárias, classificando-as como “manobras que não dignificam a estatura da nossa gente”. O discurso revela uma governadora claramente incomodada com a habilidade política de seus adversários em reorganizar as forças no Legislativo.
“A casa da Assembleia Legislativa é do povo pernambucano. Não venha fazer manobras que não dignificam a estatura da nossa gente”, declarou, numa clara tentativa de se apropriar do discurso popular para deslegitimar movimentos políticos perfeitamente legais e dentro das regras do jogo democrático.
Entre o Discurso e a Realidade
A ironia não passou despercebida: uma governadora que chegou ao poder através de alianças e articulações políticas – algumas delas questionáveis – agora critica justamente esse tipo de movimentação quando ela não lhe favorece. Raquel tentou se posicionar como voz do povo contra as “manobras” políticas, ignorando convenientemente que toda a política democrática se constrói exatamente através de articulações, negociações e realinhamentos partidários.
O tom messiânico adotado pela governadora – “Me colocaram aqui porque eu sou uma de vocês” – soa particularmente artificial quando confrontado com a realidade de um governo que vem enfrentando crescentes dificuldades para implementar sua agenda e manter a base de apoio coesa.
A Pressão Aumenta
O movimento de Diogo Moraes para as fileiras da oposição não é apenas simbólico. Na prática, pode alterar a correlação de forças na Alepe de forma significativa, especialmente no que diz respeito à CPI da Publicidade – investigação que o governo Raquel Lyra claramente gostaria de ver arquivada ou, no mínimo, esvaziada.
A reação da governadora demonstra que o governo está sentindo o cerco se fechar. Em vez de buscar o diálogo político ou apresentar respostas concretas às questões levantadas pela oposição, a estratégia escolhida foi a do ataque retórico e da tentativa de desqualificação dos adversários.
O Jogo Continua
Por mais que Raquel Lyra tente se apresentar como vítima de “manobras” políticas, a verdade é que o jogo democrático funciona exatamente assim: através de articulações, realinhamentos e pressões legítimas. O movimento da oposição na Alepe é perfeitamente legal e demonstra vitalidade democrática, não o contrário.
A governadora mostrou que não ficará calada diante dos movimentos adversários, mas sua resposta revela mais nervosismo que força política real. Em um momento em que deveria estar construindo pontes e buscando consensos, optou pelo caminho do confronto retórico – estratégia que raramente rende frutos duradouros na política.
O recado foi dado, mas resta saber se será suficiente para conter a pressão crescente que seu governo vem enfrentando na Alepe. A impressão é de que Raquel Lyra ainda terá muitas outras batalhas pela frente antes que a poeira baixe no cenário político pernambucano.



