Comemorar a morte torna-se mais fácil do que cobrar uma participação mais efetiva do Estado

O Rio de Janeiro vive uma guerra civil há anos. A imagem vendida do Corcovado e da capital da bossa nova, voltou a ser capa sangrenta após a Megaoperação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar na terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte da cidade. A operação deixou 64 mortos, sendo 60 suspeitos e quatro policiais, dois da Polícia Civil e dois do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Segundo o governo do estado, esta é a operação mais letal da história do Rio de Janeiro. A ação mobilizou cerca de 2.500 agentes e resultou em 81 prisões.

Tudo começa após uma ausência do Estado nos bairros periféricos e nas favelas. Boa parte dos moradores dessas regiões são subservientes aos traficantes ou milicianos. O Estado se isenta da culpa, pois a população favelada não importa nesses casos, a não ser na hora de votar.

Quando o Estado se isenta da culpa, o crime se sobrepõe. O policial brasileiro não sai de casa dizendo “eu vou matar”. Primeiro que ele não puxa o gatilho sozinho e em segundo é que não podemos julgar instituições como as polícias, que são essenciais para a segurança da população, por corruptos “travestidos” de policiais. Já os bandidos, sim, esses saem das suas casas com o intuito de matar, de fazer o mal, de espalhar o caos.

No meio de um crime altamente organizado, com armas de última geração, drones com bombas e um conhecimento das áreas de guerra como ninguém e uma polícia que sofre com a ausência de armas de última geração, do governo que não tem um posicionamento sólido para que as polícias se fortaleçam de uma forma eficaz, está a população periférica, composta por muitos trabalhadores e sobretudo negros, que já carregam um fardo diário de trabalhar e estudar em dobro para obter alguma notoriedade e oportunidade.

Os favelados são mortos porque estão no meio. Não porque querem. Ninguém escolhe viver na mira de polícia e de bandido, mas porque seus pais só podem morar ali. Afinal, desde a abolição, as favelas foram os lugares nos quais o homem branco empurrou os libertos da escravidão. Mesmo assim, o Estado só usa a defesa dessa pauta quando é véspera ou ano de eleição. Após esse período, ninguém faz nada e pessoas boas morrem todos os dias, porém os brasileiros que se mais dizem patriotas, preferem lutar uma guerra que não é nossa em outros países do que combater a ausência do Estado nas regiões que originam guerras civis no país e o crime toma conta.

Com a individualidade aumentando cada dia mais, é mais fácil comemorar a morte do outro do que cobrar uma participação mais efetiva do Estado na segurança pública, na saúde e nas políticas públicas.

Foto: Eduardo Anizelli para a Folha de São Paulo

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