Dom Francisco e o Grupo Teatral Ponta de Rua – Por Alexsandro Acioly

A década de 1980 foi marcada pelo fim da “ditadura militar” em 15 de março de 1985 com a posse do presidente José Sarney, período inicial da redemocratização do País. O SNI (Serviço Nacional de Informação), órgão criado em 1964 pela ditadura, e a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido político criado através do AI-2 e talvez o principal partido apoiador do regime militar, eram quem comandavam os principais atos de repressão aos seus inimigos políticos.

A capital pernambucana, Recife, respirava arte, arte esta que também começou a adentrar ao interior do estado, sendo Afogados da Ingazeira uma das cidades a receber grupos de teatro mambembes e outras atividades culturais vindas da capital.

Em julho de 1980, Afogados receberia o “Grupo Teatral Ponta de Rua”, grupo de teatro criado em Olinda e que percorreu todo o estado com apresentações principalmente de cunho político, o que lhes rendeu repressão e, em alguns casos, prisões. Uma destas prisões aconteceu na cidade de Afogados da Ingazeira em julho de 1980.

Segundo o SNI (Agência Recife), o grupo seria subvencionado, ou seja, recebia auxílio financeiro dos líderes políticos do PMDB/PE, Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, para fazerem apresentações pelo interior do estado.

Tabela 1 – Diário de Pernambuco – Recife, 13 de julho de 1980.

Durante os primeiros dias de julho daquele ano de 1980, Afogados da Ingazeira aguardava ansiosamente a apresentação do grupo na cidade. Segundo o ARENA/SNI, junção do Serviço Nacional de Informação e Aliança Renovadora Nacional, vários afogadenses participaram e apoiaram o grupo mesmo antes da sua chegada, sendo uma dessas pessoas citadas a radialista da Rádio Pajeú, Maria Luciete Martins de Morais, que, se utilizando de um carro de som, encarregou-se de convocar a população para o espetáculo que viria a ser apresentado no dia 12 de julho, um sábado de feira. Imaginem só, um sábado de feira.

Chega o tão esperado dia. Rua lotada por conta da feira com várias pessoas se amontoando tanto para fazer as suas compras como para assistir ao espetáculo. Tem início a apresentação e pouco tempo depois todo o grupo é apreendido e levado à cadeia local para prestarem depoimentos. A peça teatral tinha como título “SALÁRIO MÍNIMO NÃO TÁ CUM NADA”, tema recheado de críticas ao governo. Tudo isto ocorreu em frente ao mercado público da cidade.

Na segunda-feira, 14 de julho, o também radialista Edson Siqueira Costa em seu programa na Rádio Pajeú, que já era envolvido em movimentos camponeses e sindicais e principal articulador da vinda do grupo a Afogados, faz severas críticas à ação policial dando apoio total ao grupo. Eis que entra a figura do Bispo de Afogados da Ingazeira à época, Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho, o saudoso Dom Francisco. Dom Francisco junto à FETAPE (Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco) foram os principais apoiadores do grupo, sendo o primeiro na apresentação em Afogados e o segundo pela turnê no interior do estado. Dom Francisco era o condutor da Rádio Pajeú que na época tecia ferrenhamente críticas ao governo, motivos pelos quais a emissora sofreu várias perseguições.

Tabela 2 – Parte do documento citando Edson Costa Como elemento de ligação entre a FETAPE e o grupo teatral.

Segundo o processo, Dom Francisco hospedou em uma das casas pertencentes à diocese toda a equipe da trupe. Ainda segundo a agência, mesmo sem terem registros na mesma, faziam parte do “GRUPO TEATRAL PONTA DE RUA” as seguintes pessoas:

Geilda Maria de Brito Lopes, Walter José da Silva, Ivanildo Diles dos Santos, Samuel Costa Filho, Maria Jospe Guedes de Mélo, Jarbas Araujo Júnior, Maria da Conceição Acioly de Siqueira, Ana Elyzabeth de Araújo Faraches, Marse Sarmento Pereira de Lyra e Teresa Neuma Leandro do Nascimento.

Tabela 3 – Documento citando Dom Francisco e o apoio do mesmo ao grupo.

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