Meninas expõem rotina de casadas no TikTok com hashtag #casadaaos14; especialistas alertam para romantização do casamento infantil

Vídeos de adolescentes mostrando rotinas domésticas como “esposas” têm chamado atenção nas redes sociais e acendido o debate sobre casamento infantil no Brasil, prática ilegal que ainda atinge milhares de meninas no país.

A hashtag #casadaaos14 reúne pelo menos 213 vídeos no TikTok, onde meninas aparentemente menores de idade mostram suas rotinas como “donas de casa”. Os conteúdos incluem preparação de marmitas para maridos, tarefas domésticas, receitas e limpeza. Um dos perfis acumula mais de 190 mil seguidores e atualiza a hashtag conforme a idade da criadora, sempre fazendo referências a um suposto marido.

Entre os vídeos mais visualizados está uma postagem de 2023 que ultrapassou 2 milhões de views, mostrando uma garota preparando “a marmita do marido”. Outro perfil exibe conteúdo com a legenda “mini rotina, casada e grávida aos 14 anos”, acompanhado de hashtags como #cuidandodolar e #donadecasaporamor.

Casamento infantil é crime no Brasil

No Brasil, o casamento com menores de 16 anos é ilegal, mesmo com autorização dos pais. A legislação visa proteger crianças e adolescentes de uniões prematuras que comprometem seu desenvolvimento físico, emocional e social.

Apesar da proibição legal, dados do Censo revelam que 34 mil crianças e adolescentes de até 14 anos declararam viver em uniões conjugais no país. Desses casos, 77% envolvem meninas, evidenciando o recorte de gênero dessa problemática.

Especialistas alertam para os riscos

Profissionais que trabalham com direitos da criança avaliam que esses vídeos representam uma romantização perigosa do casamento infantil. A exposição dessas rotinas nas redes sociais pode normalizar uma prática que traz consequências graves para o desenvolvimento das meninas, incluindo evasão escolar, gravidez precoce, violência doméstica e perpetuação de ciclos de pobreza.

A viralização desses conteúdos levanta questões sobre o papel das plataformas digitais na proteção de menores e na disseminação de práticas que violam direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

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