Uma tradição que começou com voluntarismo brasileiro e se consolidou ao longo de décadas
A 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) acontece esta semana em Nova York, e mais uma vez o Brasil ocupará a posição de honra como primeiro país a discursar no debate geral. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falará na terça-feira (23), mantendo uma tradição que remonta a quase 70 anos.
As origens da tradição brasileira
A explicação para essa posição privilegiada do Brasil na ONU não está em nenhum protocolo oficial ou regra estabelecida, mas sim em uma curiosa combinação de voluntarismo e cortesia diplomática que se transformou em tradição ao longo dos anos.
Nos primeiros anos da Assembleia Geral da ONU, criada em 1945, nenhum país se mostrava particularmente interessado em ser o primeiro a discursar. Havia uma relutância natural dos países em abrir os discursos oficiais, e foi nesse contexto que o Brasil se voluntariou repetidamente para essa função.
O Brasil foi o primeiro país a se pronunciar na reunião em 1949, 1950 e 1951, demonstrando uma disposição consistente em assumir esse papel. Desde a 10ª sessão, em 1955, o Brasil falou primeiro, e os Estados Unidos, em segundo, estabelecendo uma ordem que se mantém até hoje.
Como funciona o protocolo atual
Atualmente, a liturgia da abertura da Assembleia Geral segue uma sequência bem definida: primeiro fala o secretário-geral das Nações Unidas (atualmente António Guterres), depois o presidente da Assembleia Geral, e em seguida o representante brasileiro, tradicionalmente o presidente da República.
Como tradição desde 1955, o Brasil será o primeiro Estado-membro a discursar na abertura do debate geral. Essa prática se consolidou de tal forma que hoje é considerada um protocolo não oficial, mas amplamente respeitado pela comunidade internacional.
Raras exceções à regra
Embora a tradição seja sólida, houve algumas exceções ao longo da história. Nas 38ª (1983) e 39ª (1984) sessões, os Estados Unidos falaram primeiro, e o Brasil falou em segundo. Essas foram situações excepcionais que não alteraram a tradição estabelecida.
O significado diplomático da posição
A posição de primeiro país a discursar na Assembleia Geral da ONU confere ao Brasil um status diplomático especial e uma visibilidade internacional única. É uma oportunidade para o país apresentar suas posições sobre questões globais e influenciar a agenda internacional desde o início dos debates.
O Brasil foi um dos 51 signatários originais da ONU, e a criação da organização representou não apenas o fim da Segunda Guerra Mundial, mas o compromisso da comunidade internacional com a paz, os direitos humanos, a igualdade soberana entre os Estados e o desenvolvimento sustentável.
A Assembleia Geral de 2025
A Assembleia Geral da ONU ocorre entre os dias 22 a 26 de setembro, e o presidente Lula manterá a tradição brasileira. Este ano, a assembleia ganha importância especial com as discussões sobre mudanças climáticas, especialmente considerando que o governo brasileiro realizará consultas presenciais com partes negociadoras em Nova Iorque sobre a COP30, marcada para novembro, em Belém.
Uma tradição que perdura
O que começou como um gesto espontâneo de cooperação nos anos iniciais da ONU se transformou em uma das tradições diplomáticas mais duradouras da organização. A posição brasileira como primeiro país a discursar na Assembleia Geral é hoje um símbolo da diplomacia brasileira e de seu comprometimento histórico com o multilateralismo e a cooperação internacional.
A tradição demonstra como pequenos gestos de boa vontade podem se transformar em práticas institucionais duradouras, e como o Brasil soube capitalizar diplomaticamente uma posição que, inicialmente, outros países não desejavam ocupar.



