Bolsonaristas desafiam controle das presidências e ocupam mesas do Congresso Nacional

Deputados e senadores bolsonaristas protagonizaram nesta semana uma das maiores crises de governabilidade do Congresso Nacional dos últimos anos, ocupando fisicamente as mesas diretoras da Câmara e do Senado em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. O movimento, iniciado na terça-feira (5), representa um desafio direto ao controle exercido pelas presidências das duas Casas legislativas.

No Senado, cinco senadores da oposição – incluindo Damares Alves, Jorge Seif, Jaime Bagattoli, Izalci Lucas, Eduardo Girão e Magno Malta – ocuparam a mesa diretora do plenário, paralisando completamente as atividades da Casa. A ação forçou até mesmo a transferência de um evento preparatório para a Conferência do Clima da ONU para um auditório, já que tradicionalmente seria realizado no plenário principal.

Obstrução total paralisa tramitação de projetos

Os senadores prometem só deixar o local após a Casa dar resposta ao ministro do STF Alexandre de Moraes pela prisão de Bolsonaro. O movimento vai além da ocupação física: segundo o senador Rogério Marinho (PL-RN), “é uma medida extrema, mas há mais de 15 dias não conseguimos interlocução com o presidente da Casa”.

Na Câmara dos Deputados, a situação não é diferente. Parlamentares bolsonaristas ocuparam a Mesa Diretora da Casa, impedindo o início da sessão plenária, com esparadrapos na boca em sinal de protesto. O grupo exige a aprovação de um chamado “pacote da paz” que incluiria anistia para envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

Presidentes criticam ação, mas perdem controle da agenda

Os presidentes das duas Casas se viram obrigados a se manifestar publicamente sobre a crise. Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, e Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, criticaram na tarde de terça-feira “a obstrução das atividades legislativas por deputados e senadores de direita”.

No entanto, as manifestações demonstram a fragilidade do controle exercido pelas presidências sobre suas respectivas bancadas. Alcolumbre, que assumiu a presidência do Senado em fevereiro deste ano derrotando candidatos bolsonaristas, vê agora sua autoridade contestada diretamente no plenário da Casa.

O movimento não representa apenas uma reação pontual à prisão de Bolsonaro. Análises políticas indicam que se trata de uma estratégia mais ampla da oposição para ganhar protagonismo e pressionar por pautas específicas, incluindo o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e a anistia para os envolvidos nos atos antidemocráticos de janeiro de 2023.

Os manifestantes exigem especificamente “anistia para golpistas e impeachment de Moraes”, demonstrando que o protesto vai além da questão da prisão domiciliar e abarca uma agenda política mais ampla de confronto com o Poder Judiciário.

Impactos na governabilidade

A crise expõe as dificuldades enfrentadas pelas lideranças do Congresso para manter a governabilidade em um cenário de alta polarização política. A ocupação física dos plenários representa um precedente grave, questionando a capacidade das presidências de manterem o controle sobre a agenda legislativa e o funcionamento regular das instituições.

Com a paralisação das atividades legislativas, projetos importantes ficaram suspensos, incluindo votações de medidas provisórias e outras matérias em tramitação. A situação permanece indefinida, com os ocupantes mantendo sua posição e as presidências buscando alternativas para retomar o controle das atividades parlamentares.

Reflexos para 2026

O episódio também deve ser analisado no contexto das eleições de 2026, quando serão renovados dois terços do Senado. A demonstração de força dos bolsonaristas no Congresso pode ser um ensaio para uma estratégia mais ampla de ocupação de espaços políticos, visando ampliar sua representatividade no Legislativo federal.

A crise atual demonstra que, apesar de não controlarem as presidências das Casas, os grupos bolsonaristas mantêm capacidade significativa de mobilização e pressão política, representando um desafio constante para a governabilidade e o funcionamento regular das instituições democráticas brasileiras.

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