As medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) podem acelerar significativamente seu afastamento do cenário político nacional, antecipando um processo que estava previsto apenas para os próximos meses com o fim do julgamento. A decisão intensifica as pressões em torno da escolha de um sucessor para as eleições de 2026.
Decisão de Moraes Surpreende Aliados
O ministro Alexandre de Moraes determinou que Bolsonaro não pode utilizar redes sociais, viajar pelo país e deve usar tornozeleira eletrônica. A medida pegou seus aliados de surpresa e reforçou o discurso de perseguição do ex-presidente, que classificou a situação como “suprema perseguição”.
No círculo próximo a Bolsonaro, a medida é interpretada como uma espécie de prisão antecipada. Os próximos passos ainda são incertos, e reuniões do PL programadas para o início da próxima semana devem definir uma estratégia de atuação conjunta, incluindo possíveis manifestações.
Preocupações com Estado Físico e Mental
Reservadamente, aliados demonstram preocupação com o quadro físico e psicológico do ex-presidente. Vale lembrar que, no final de 2022, após perder a reeleição, Bolsonaro enfrentou um episódio de depressão, o que gera apreensão sobre seu estado atual.
Reunificação do Bolsonarismo
Paradoxalmente, a imposição da tornozeleira eletrônica teve um efeito unificador entre os bolsonaristas, que vinham abalados nas últimas semanas pelo desgaste causado pela sobretaxa imposta pelo presidente americano Donald Trump aos produtos brasileiros.
Há consenso no grupo de que o momento exige solidariedade ao ex-presidente e insistência na sua candidatura. Em entrevista concedida na sexta-feira (18), Bolsonaro afirmou que, sem sua participação na disputa de 2026, o presidente Lula (PT) venceria qualquer adversário – ressaltando que o ex-presidente já está inelegível.
Estratégia de Vitimização
Seguindo o exemplo de Trump, aliados têm usado o termo “caça às bruxas” para defender a tese de que, pela atuação do STF, qualquer candidatura presidencial com o sobrenome Bolsonaro seria impedida de participar da disputa.
A possibilidade de a família ficar completamente fora do pleito não tem sido discutida diretamente com o ex-presidente. Seus interlocutores consideram o tema extremamente sensível, especialmente no momento atual.
Cenário Sucessório em Debate
Entre os aliados, duas correntes se formam sobre a sucessão. Uma parte acredita que isso fortaleceria a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado o mais viável neste cenário.
Outra ala, mais resistente ao nome do governador paulista, vê possibilidade de construir uma alternativa com um filho de Bolsonaro na chapa ao lado de outros governadores de direita, como Ronaldo Caiado (União), de Goiás.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem falado abertamente sobre a possibilidade de candidatar-se ao Planalto caso seu pai assim decida. Contudo, ele próprio afirma que não retornará ao Brasil tão cedo, temendo ser preso. Sua atuação nos Estados Unidos motivou investigação no STF por coação sobre o tribunal, que resultou na decisão desta sexta-feira contra seu pai.
Estratégia de Enfrentamento
Segundo aliados, Bolsonaro já cogitou deixar o país, mas se convenceu, nos últimos meses, da necessidade de permanecer e fazer enfrentamento político. A avaliação é que uma saída do Brasil seria interpretada como covardia pelo petismo, contrastando com o papel de mártir que seus apoiadores buscam construir.
A Polícia Federal encontrou US$ 14 mil em dinheiro na casa do ex-presidente na sexta-feira. No STF, a apreensão dos dólares é vista como indício de plano de fuga do país, possibilidade que não é descartada nem mesmo por seus aliados.
Impacto no Centrão
Se no bolsonarismo a decisão provocou união sem encaminhamentos precisos, entre lideranças do centrão a sensação foi de atordoamento. Isso inclui partidos que buscam viabilizar uma candidatura de direita em 2026.
Essas lideranças consideram que as medidas de Moraes “jogaram querosene” em um cenário já extremamente tenso, exigindo atuação cautelosa do Congresso. Na sexta-feira, até deputados normalmente acessíveis recusaram-se a conversar com jornalistas.
Parlamentares do centrão estão preocupados e ainda não definiram estratégia sobre como participar desta crise. A orientação tem sido evitar medidas bruscas que sinalizem alinhamento claro ao governo ou à oposição, na tentativa de diminuir a tensão.
Cenário Eleitoral Paradoxal
Apesar das medidas restritivas, a análise geral indica que Bolsonaro termina a semana menos desgastado eleitoralmente do que começou. Os episódios envolvendo a sobretaxa de Trump trouxeram enorme desgaste ao grupo político, desde divergências estratégicas até questionamentos sobre o posicionamento do ex-presidente.
Agora, seus aliados defendem que a tornozeleira eletrônica poderá reforçar seu papel de vítima e reunificar sua base, o que, na prática, facilitaria a construção de um sucessor.
Um dos pontos principais a ser explorado é o fato de Moraes ter proibido Bolsonaro de falar com seu filho Eduardo. O ex-presidente deverá reforçar o discurso de perseguição e ampliar a aposta contra o Supremo, maximizando sua exposição pública, especialmente porque está proibido de usar redes sociais. Apenas na sexta-feira, concedeu cinco entrevistas a veículos nacionais e internacionais.
Em relação a 2026, a indefinição permanece significativa. Bolsonaro é cada vez mais pressionado a desistir da candidatura presidencial, mas está nos holofotes e ganha força para definir seu sucessor.
Esta matéria foi elaborada com base em informações do jornal Folha de São Paulo.